7/25/2019 3. Leopold Von Ranke – Sobre o Carater Da Ciencia Historica. Apresentacao e Notas [Julio Bentivoglio]
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aga - Diretor
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O R G N I Z D O R
....
LIÇOES DE
HISTORI
o c minho
da ciência
o
longo século X X
Coedição
GV
ediPllCRs
'
...
Porto Alegre, 2010
7/25/2019 3. Leopold Von Ranke – Sobre o Carater Da Ciencia Historica. Apresentacao e Notas [Julio Bentivoglio]
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eopold von Ranke
Julio Bentivoglio
Como
..é ambição
naturaLde tod
O homerrLdeixar-atráuie.
si algum registro útil a..existência,
eu
tenho alimentado
por
muito
tempo projeto de
devotar minhas
energias e
minha
capacidade a este trabalho
tão
importante
.
Ranke , História
da Reforma
na Alemanha, 1847
Parece-me risível [. ..] dizerem que não me interessam
as
questõ.es
jilosóficas
_ou
r e l i g i Q s a a m j u s t a m e n t
s s a s u s t õ s e
..ó
que me
t ncaminharam à
históri
a...
Ranke
Carta
a Heinrich
Ritter,
1830
Franz Leopold von Ranke nasceu, em
21
de dezembro de 1795, em Wiehe
(atual Unstrut), na Turíngia, e morreu em 23 de maio de 1886
em
Berlim.
Casou-se em 1843 com Helena Clarissa Graves (1808-1871) quando con
tava 48 anos e já era renomado historiador. Iniciou seus estudos no ginásio
de Schulpforta
1
- onde também estudou Fichte (1762-1814) - man
tendo por toda a vida suas convicções religiosas em meio a uma família de
pastores luteranos e nutrind o desde a infância grande afeição pelo estudo
das letras clássicas.
Em 1814 entrou para a Universidade de Leipzig, onde estudou teo
logia e filologia. f1.Qreciava o estudo_de-.autores antigos,_tendo_
c QJ
1l.0ellS
prediletos Tucídides (460-400 a.c. , Iito
Lívio
(59 a.C.-17 d.C.) .ú 2ionísl2..
de Halicamasso_(54 a.C.-8 d.C.) .2 ,Entre seus contempmâneos. ap:r:eciav:a
Q
pensamento_de Barthold Georg NiebuhL(1776-1831), l mmanuel Kant
(1724-1804), Joahnn Gottlieb Fichte (1762-1814), Friedrich Schelling
(1775-1854) e.rriedrich Schl
e.ge
L(1772-1829) .
Tais
simpatias dizem muito
acerca da formação e das convicções teóricas de Ranke . Em 1817, iniciou
1 Famosa escola criada no século x:v
ond
e lecionou,
por
exemplo, Friedrich W Nietzsche entre
1858
e
1864.
2 Segundo Gay (1990 :71), foi a filologia clássica, e não a história, que atraiu Ranke .
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1 4 I
I••
1\ 1'1
', I 11111
sua carreira como professor de letras clássicas no Friedrichs Cyl1lllas
iuJ11,
de Frankfurt. Ali despertaria seu interesse pelo passado e pela hist ria.
Depois de muitos estudos e várias visitas a arquivos, redigiu sua pri
meira obra, publicada em
1825,
Geschichte
der romanischen und
germanis
chen Vólker
von 1494 bis 1514
(História
dos
povos
latinas
Lgermânicas..de.J.j94
a
1514 ,
na qual demonstrou sua capacidade de investigaçãojUstó.rica,
vsando uma variedade de fontes que_incluíam memórias, diár·os cartas
pessoais e (ormais, documentos govern-ªmentais
~ i p l o m á t i c o s t e s t t m l l .
nhos oculél,IT;;.3 De maneira semelhante a Niebuhr e Johann Gustav Droy
sen
(1808-1884),
Ranke apoiou-se na crítica documental desenvolvida
por Friedrich A Wolf (1759-1824) e pelo orientador de Droysen, August
Bóckh
(1785-1867),
e na hermenêutica romântica de Friedrich Schleier
macher (1768-1834).4 Estava aí a base do método histórico que se consti
tuiria a partir de então.
5
Esse livro, que o alçou à carreira acadêmica, trazia
em sua introdução a tão incompreendi da frase: a história esçolheu para si
o cargo de revelar o passado e instruir o futuro para o h.enefído_das_ger-ª
ções futuras. Para mostrar aos altos oficiais o que o presente trabalho não
pressupõe: ele busca apenas
mostrar
o que realmente acon e c e u ~ . 6 A despeito
de interpretações apressadas de sua obra, Ranke jamais s.eJimitmULpr:ud J
zir uma história factual,JIleramente p.olítica..ou-que..ap ego asse que os fatos
e v e r i a J I l falar}2Q si esmos;7 tampoucQafi rmou
q u e . . o . J Ü S 1 Q I Í a d Q . r
~
ria anular sua subjetividade, como se verá em seu texto, mais adiante.
Recém-ingresso na Universidade de Berlim, em
1825,
nomeado como
Ausserordentlicher Professor,
Ranke colocou-se ao lado de seu amigo Frie
drich Carl von Savigny
(1779-1861)
em oposição ao pensamento histórico
de Friedrich W Hegel (1770-1831). Embora não discordasse da..existênda
Qg
uma histÓri<UlIlLversal e de
c a r á ~ r
divino, Rankk p.Leleria valorizar o
3S
c
hulin, 1966:584.
4 Iggers, 1988:65.
5 Gadamer (2003:271) indica, contudo, que o caminho seguido por Ranke se inspira, mas não
se fundamenta na hermenêutica de Schleiermacher. Para ele a es colallistóri ca husco:u..ap.oiRna
~ e o r i a
romãntica da individualidade"; embora os "historicistas" tomem a realidade histórica
Ç
mo um texto a ser comp.reendido, eles procuraITLcompreender a totalidade do
s...nex
os da
história a humanidadJ:, inspirando-se em Herder e Chladenius.
6
A tão citada frase
wie es
e
igentlich gewesen .
7 Para muitos, como Fontana (2004 :225),
a
frase
foi
tirada do contexto injustificadamente e
i.nterpretada como uma declaração metodológica".
I I JI
II
II VII II I{/ d lf I
as
pecto humano c singular na história, recusando-se a aceitar que ela fosse
apenas a realização de ideias. O adversário nessa disputa era Heinrich Leo
(1799- 1878), e o centro da discórdia residia, sobretudo, na divergência
em torno do pensamento político e da figura histórica de MaquiaveLB Em
Berlim, despertou-se a insaciável curiosidade arquivística de Ranke,9 que se
via
como um Colombo da história. O O meio universitário franqueou-lhe ar
quivos. Passou a dedicar-se_ao eSlud.o-e-à_pesquisa-delont.e.s...primárias. - não
somente em território prussiano - L a desdenhaL daqueleS-hist.oriadores
que
ainda...s.e
valiam dunemórias anais ou obrailiblio.gráficas.J,á.nastentes
_paTILproduzir- seus-trabalhas.. A Universidade de Berlim, criada em
1810,
expressava o espírito da Bíldung fundido ao de Wissenchaft.
Ao contrário
das universidades antigas, que priorizavam a instrução, na futura
Humboldt
Universitat priorizava-se a pesquisa como um dos pilares para a formação.
l2
Em
1825
viajou para Suíça e Itália, retornando em
1827.
Em
1831,
a pedido do governo prussiano fundou a revista Historisch-Politische Zeits
chrift
13
Nela combateu o liberalismo e defendeu um pensamento monár
quico e conservador até meados de
1836.
Para Laue, os escritos dessa épo
ca expressam seu pensamento político, que vê de
um
lado a sociedade e de
outro os experts em governar. Outro aspecto decisivo revela a leitura que
tinha, em particular, da experiência política francesa. Emike vi a Revo -
ção Francesa como uma expressão daqlle1a..nação e seu p.rograma
é
claro e
direto:
o r g ª n i z e m o 3 1 o S - n Ó s p . r ó p r i Q s s . . . e l l i i m i t a r m o s n o s s o s - v i z j n h o s
[
..
]
mecisanlOs empreender t a r e f a
c a h e , m a t a r e f a h e m alemã.
"frmos que constituiL
um
verdadeiro Estado alemão,_que responda ao perfil
8
Iggers , 1988:66-69.
9
A este respeito ver Baur (1998).
10 Laue, 1950:34.
11
Bildung
significa formação e Wissenchaft, ciência. Na Alemanha do século
XIX,
ambas são a
expressão máxima do espírito que animava as artes, a cultura e o pensamento. Pressupunham
a formação plena do homem e valorizavam a pesquisa e a cultura como instrumentos decisivos
para istoVer a respeito Gilbert (1990).
12
Iggers, 1997:24.
13
Sob a iniciativa do conde von Bernstorff, ministro do Exterior, que pretendia, sobretudo,
defender a burocracia prussiana das críticas de liberais e de partidários da esquerda . Ver Iggers
(1988 :70).
14 Laue, 1950.
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36 I I
I
I I II
111111
de nossa gente . 15 Q fato é que Rankc acompanhou lll cntus iaslllo a
po
lítica de
Quo
von Bismarck. Mesmo saudando-o como um dos fundador
do império alemão, em
1879,
o fazia somente porque aquele líder havia
defendido a Europa dos males da revolução.
16
Entre
1834
e
1836,
Ranke redigiu seu Die r6mischen Papiste, ihre kirche
und ihr
Staat im sechzehnten
und
siebzehnten
Jahrhundert
História
dos
papas,
sua Igreja e Estado no
século
XVI e XVII). A despeito de o Vaticano ter proi
bido Ranke de consultar seus arquivos em Roma, ele se valeu das corres
pondências diplomáticas privadas feitas entre Veneza e o papado para seu
trabalho. Nesse livro, formulou o conceito de contrarreforma, e sua recep
ção provocou forte polêmica com a Igreja Católica e também com os pro
testantes; para aquela, Ranke era um crítico mordaz, para estes, um crítico
muito brando do catolicismo. Essa obra complementou-se com Deutsche
Geschichte
im
Zeitalter
der Reformation História da Reforma na
Alemanha ,
escrito entre 1845 e 1847. Novamente Ranke demonstrou sua incrível ca
pacidade de pesquisa ao examinar, em menos de dois anos, os
96
volumes
da Dieta ImperiaP7 em Frankfurt para explicar a Reforma religiosa alemã,
revelando o elo que havia entre as disputas políticas e religiosas.
Em 1841, Ranke tornou-se historiógrafo real da corte prussiana.
Em
1849,
publicou Neun Bücher preussicher
Geschichte
(traduzido para
o inglês como
Memoirs
of the
House
of
Brandenburg and history
of Prussia,
during the
Seventeenth
and
Eighteenth
Centuries ,
onde examinou o Hohen-
zollern
s
da Idade Média até Frederico, o Grande. Mas :oessa obra não
há, como nos demais historiadores da chamada escola histórica alemã
- Droysen, Maximilian Duncker (1811-1886) ou Heinrich von Sybel
(1817-1895) - , nenhuma apologia ao Estado prussiano, nem naciona
lismo exacerbado. Nela a Prússia não
é,
em momento algum, apresentada
como uma grande potência do presente e do futuro, mas apenas como
um país como outro qualquer.
15
Apud Guilland (2001:64).
16 Iggers, 1988:72.
17
Reichstag, termo que significa Dieta Imperial, é a instituição que representa o parlamento ale
mão, remontando a Carlos Magno e
ao
Sacro Império Romano-Germãnico no século
IX.
18
Dinastia real formada na região de Brandenburgo a partir de 1415 , depois sob o ducado da
Prússia a partir de 1525, originária de condes da Suábia, que governou a Prússia até o fim da
I Guerra Mundial, da qual
fazia
parte Frederico lI.
1 7
)s s l11inarios rcalizados para o
rULUro
rei Maximiliano da Baviera
em 1854 são indices preciosos a respeito do método histórico em Ranke.
Ali, como em sua preleção Sobre as afinidades e
diferenças entre história
e
polí-
tica, desenvolveu sua exposição mais sistemática e coerente dos princípios
historicistas na historiografia do século
XIX
.19 Em um deles,
12rofessou
seu histQIicism.o_de c..unho-religioso, ao_dize.r-quLcada_ép.üca-é-ime.diata
~ s
jede
Epoche
ist
unmittelbar zu
Gott),
deu ênfase às-singularidad.es
e recusolLqualqller tipü-de abordagem teleológic_.-na quaLum_
p.erio.do
_provocaria o período subsequente_Assjm, a Idade Média não_poderiaser
vista como
umlipm
inferior ao
Re
ascimeJ1lQJampilllCil..este
11m
mero
deseuyolvimenW d
quda
Após sua aposentadoria, em 1871, continuou a escrever sobre uma
variedade de assuntos e, a partir de
1880,
iniciou um ambicioso trabalho
em seis volumes sobre a história universal, o qual começou com o Egito anti
go
e com os hebreus. Até seu falecimento, em Berlim, no ano de
1886,
havia
alcançado apenas o século XII. Subsequentemente, seus assistentes e orien
tandos utilizaram suas notas e rascunhos para expandir a série até
1453.
Em 1865 Ranke recebeu o título de barão Freiherr) e em 1882 se tornou
membro do Conselho Prussiano. Em
1884
foi escolhido como membro de
honra da American Historical Association, o que indica sua larga aceitação e
posterior influência nos países anglo-saxões.
o
Esses breves apontamentos biográficos talvez não façam justiça àquele
que, para muitos, é considerado o maior historiador do século XIX.
21
Leo
pold von Ranke foi cçmsagrado
em
vida_como um _dos fundadores_da-Ciên
cia..hislórica m o_derna, eclipsando c ontemporâneos talentosos como Droy
sen ou o
g n h ~ d o r
do prêmio Nobel Theodor Mommsen (1817-1903). In
fluenciou toda uma geração de historiadores alemães, ingleses e franceses.
Lamentável é ver que ainda hoje paira uma incompreensão a respeito de
sua obra
-já
várias vezes refutada
-
onde se demonstra que Ranke não
era_nenuLUncaJoi
um
historiadoLpositivi,.S.ta
22
Esse mal-entendido procu-
19
Iggers, 1988:70.
20
Gildherhus, 2007:47; Iggers, 1962.
21 Vierhaus, 1987.
22
Não foram poucos a desmitificar o equívoco: Iggers (1962); Braw (2007); Holanda (1979);
Vierhaus (1987).
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38
111111 , J
"
ra reduzi-lo
à
visão caricata da tão incompreendida ,'x im<l W C C i clg('I1I i(
h
gewesen Grosso modo, o fragmento refere-se ao fato de que p historiador
.não deve louvar nem julgar. Um dos mais influentes teóricos do século XX,
Robin G. Collingwood 0889-1943), afirma que Ranke empregava a crítica
histórica como cerne de seu trabalho, mas não realizava uma segunda etapa
cara
à
filosofia positiva ,
ou
seja, localizar uma lei geral de desenvolvimento
histórico.
23
Para G. P Gooch essa incompreensão teve um efeito benéfico:
separou,
em alguma medida, o estudo do passado das paixões políticas do
presente.
24
Assim, o que pode parecer ingenuidade epistemológica era, na
verdade, uma postura desafiadora para os demais historiadores alemães,
da escola histórica ou da esquerda, que desejavam uma história mais ou
menos comprometida com o poder. Marrou acertadamente observou que
a frase não significava a defesa, por parte de Ranke, da promoção de uma
ressurreição integral do passado.
25
De qualquer modo, Hans-Georg Gada
mer defende que esse autoapagamento proposto por Ranke não excluía,
em absoluto, a participação no
real,26
Ou seja, o historiador p ode ter cons
ciência de seus pré-julgamentos e da interferência de sua subjetividade em
suas escolhas e ações, tanto em seu trabalho quanto na vida pública, mas
seu engajamento, ou não, é uma questão de opção. _Ranke 12referiu a discri
ção e o r ~ c o l h i m e n L O , d e d i c a n d o . sobretudo,
--ª,-
pesguisa.
Ranke...é_herdeiro intelectual de Wilhelm von
Humboldt
0767
-1835)
e de Banhold Niebuhr,
.a...s
_lLlllodo_pmpagadoLes
..-
:lcu:ecurso-imp.eratiYo
das fon
e ~ p r i m á r i a s 2 7
em pes.quisa históLica,.-do..JJ.so_da-q:itica histÓrica
documental,
hem.
cQIlli1_
dandesa
de uma esnita.-ruLhist6J.:ia_compmmis
sada_corn...aserdadcdos_fatQS.,-Clb;i-eti..\m...e..-áparlid.ária. Isso não significou,
em nenhum momento, a recusa da imaginação em Ranke, a presença da
subjetividade ou a rejeição de uma poética da história.
28
Afinal, ele via com
23
Para Collingwood
(1989:133),
os historiadores do século XIX teriam aceitado a primeira eta
pa do método positivo, a recompilaçãO de fatos, mas não a segunda, o descobrimento de leis.
24 Gooch, 1935:97.
25
Marrou [s.d.]
:37.
26 Para Gadamer
(2003:287),
uma vez que todos os fenômenos históricos são manifestaçôes do
todo da vida, participar deles é participar da vida .
27 Para Gay
(1990:75),
esse é um de seus méritos: com seus esforços, não deixou dúvidas quan
to ao fato de que os documentos detêID --ª--Chaye-da-verdade h i s 1 Ó . r i c a e m h o r a ~ e c e s s i t e I I L d a
in.Lem:nção
p Q L p a r t e
h i s t Q r i a d Q os a c o l h e . . s . e k ~ n a l i s a .
28
Ver o brilhante ensaio de Rüsen
(1990).
I
) 1 J V I I
H
I
tt' '> t :; O
)
prccl1 'hil1l ento de
la
cunas, mas não o recurso
à
imaginação.
29
Valorizava, igualmente, a narrativa do. historiadoL
30
Para ele, a história era,
ao m smo tempo, uma ciência e uma--ªI1.e, e o
h i s t o r i a d o . L l ã O - C i ~ a i n
culcar nela suas posiç.ões_políticas.
3
Nesse sentido, afastava-se radicalmen
te
de seus contemporâneos, como Droysen, e de seus próprios discípulos
Sybel, Duncker e Heinrich von Treitschke
0834-1896).
Evidentemente,
Ranke sabia da impossibilidade de uma escrita neutra, mas preconizava a
recusa a tomar-se partido.
32
Para Ranke, a.me la.da história.:serÜLconbecer as tendência dominaD.:
Jes de
uma
época; entretanto, negava a filosofia da história de Hegel
por
não ver nela nada de humano, apenas a ideia divina desprovida de qual
quer traço concreto. Apreciava ainda os romances de Walter Scou e o his
toricismo de Herder
(1744-1803) . E
defendia o estudo..dus e . ~ ~ , dos elos
que artic1JlillILqllaisquer
wnstelaç.õ..e.s
_
d..e....e..v.entos..:
3
Por fim, n ~ Q se. pode
çlescuidar do_conteúdo religios_o_de s . e u s s c r i ~ , mencionado
por
inúme
ros intérpretes há mais de
um
século. Para Ranke, dar..-vida-aG-passado seria
uma
forma de encontrar-se com Deus;34 porém, se a históri e
x
pressª-1
Qbra
divina, não há nele o fervor do pre.gadoL Sua históri
conferia.:.ê.nfase
ª olítica, sobretud o à política internacional
Aussenpolitih).
E, embora não
tenha sido o primeiro, pode-se atribuir a Ranke a institucionalização do
seminário como moderno meio de ensino universitário, disseminado pelas
universidades alemãs a partir de seus
cursOS.
35
29 "E.m.Ranke.._a.mãCLill.ooeladora_do..artistaliteráriQlluuc.a..se..distancia.doJahor..c.ons.tru.ti=-do
bistoriadoJ (Gay,
1990:63).
30 Para Guilland
(2001:13),
Ranke conferia extrema importância
à
forma e escrevia com viva-
cidade e graça.
31 Conta-se a anedota de que, num congresso, um colega teria dito a Ranke que, como ele,
era historiador e cristão; ao que retrucou Ranke: sou historiador, não apologeta (Holanda,
197913)
32
A este respeito ver, sobretudo, Vierhaus
(1990:64-65).
33 Não resta dúvida quanto
à
influência da.apreensãO_QIganici.sJ:a,..rclaçionaLdo...processo-
hist.Q.H
Ç.O tal como proposta por Herder. Maior discussão a respeito em Baur
(1998) .
34 Sobre tudo flutua a ordem divina das coisas, difícil por certo de demonstrar, mas que sempre
se pode intuir. Dentro da ordem divina, assim como na sucessão dos tempos, os individuos
importantes ocupam seu lugar; assim é como os há de conceber o historiador (apud Fontana,
2004:227).
35 Nestes seminários notabilizou seu
m é t o d o d ~ s t l l d c r í t j c Q
das fontes
Quel
lenhritih) , ao
formar duas geraçôes de historiadores alemães .
Ver
Stern (1973:54) .
7/25/2019 3. Leopold Von Ranke – Sobre o Carater Da Ciencia Historica. Apresentacao e Notas [Julio Bentivoglio]
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14
li 111,111 I
)II
I A
Para Ranke, um historiador precisa de lI'
S
qualidad
es
l'a r
ll:lI
is: h O lll
e n s o coragem e honestidade. Figura ao lado d e Droy
sen
com um aluno
ideal de Humboldt, como indicou Georg Iggers, pois tem posição seme
lhante às
do
mestre em relação a temas como a natureza
do
pe
ns
amento
histórico, o Estado, a cultura e a dificuldade de se encontrarem leis univer
sais para o estudo do passado. E cada um, a seu
modo,
enfatiziLane.c.e.ssi
dade
do
realis o histórico e do se O - . d a l i d a d e . Tinha Herder como
referência-chave, pois este
pensador
forneceu
um
modelo para
um
modo
de escrever a história que pode ser desprendido de sua base teórica formal
e julgado
em
seus próprios termos,
como
um
protocolo metodológico
que
pode
ser partilhado por românticos, realistas e historicistas indistintamen
te .3?
.5-
wL co
.lJ1
]2reensão a i tória co uma Clenci gorosa
exp.res.sg.
uma tensão entre
um demanda
_explícita
por
o ·.etÜd.da
ci L
c
ient
ífica e a
r-ejeição aos julgamentos de valoLe e S J l e c u l a ç ô e s m e t a f í s i c a s e ~
intromissão de questões
12
0líticas
ou fil
os_óficas na esquisa.
38
Igualmente
reJeitaYa s o r t e de positivisillCLqllc r.eÚd.ndicassL1 Le.stabelecimento
dos fatos como a tarefa essencial
do
_
trabalho....do
_his.to.riaclru::'.
39
Amigo de Frederico Guilherme da Prússia e de Maximiliano da Bavie
ra, Ranke publicou a partir
de 1865
suas obras completas, atualmente
com
quase 60 volumes, e
pôde
ver seus discípulos ocuparem cadeiras de his
tória nas principais universidades alemãs.
Comba ell
_
aL
ey cluç
.ã.o
.
....o
lumi
nisrno,_o_rornantismo e o
h e . g e l i a n i s m o e m b o r
r e j e i t a s s e
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gresso, não deixava de cO
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p.ar..úlh
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ce to-º-tirnisrno....crn..s.U4-é.poca , o qll e
. n ã o j d a . e u l O . J l l s . . t ó r i L J . . e . L u
validade universal_pois,_p.ara_ele, cad
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UtQ
genuíno do espírito de uma n a ç ã o . ~ a r a a n k e e . a l i d a d ü : :
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y.cntoilistóric
Qs,_e a
g n i f i c a v a
reconhecer sua
.
o s i ç
. ã o . . . . d i a n t e . . J i a . 1 o . r .
em
estudo.
41
Aproximar-se de u a_ép..Qfa
seria
uma
percepção espirifual, e não somente uma constataç-ª.o construída
a partir dos dados enco trados
na
pesquisa .
36
Gilbert, 1990.
37 White, 1995:91.
38
Iggers, 1988:25.
3
9
Ibid.
40 Para uma síntese de suas principais concepções, ver Braw (2007) .
41
Iggers, 1988:77.
11111
111 I
VII II I
AII
I I
141
Pr ill
cipais ob r
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' Ra ll
k :
.. Geschichte der romanischen
und
germanisc
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en Vó
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ke
r von
1494
bis
1514
(1824).2v.;
..
Die
ser
b
isc
he Re
volution
.
Aus serbischen Papieren
und Mittheilungen
(1829);
..
Die
rómischen Papste in den letzten vier
jahrhunderten
(1834-1836). 2v.;
.. Deutsche G eschichte im
Zeitalter
der
Reformation
(1839-1847). 2v.;
.. Neun Bücher preussischer
Geschichte
(1847-1848) . 3v. ;
..
Franzósische Geschichte,
vornehmlich
im
sechzehnten und siebzehnten jahr-
hundert
(1852-1861). 5v.;
..
Englische
Geschichte,
vornehmlich
im
sechzehnten und siebzehnten jahrhun- .
dert (1859-1869) . 3v.; .
.. Die deutschen Machte
und der
Fürstenbund
(1871-1872);
.. Ursprung
und
Beginn der Revolutionskriege 1791
und
1792 (1875); .
..
Hardenberg
und die
Geschichte
des
preussischen Staates von 1793
bIS
1813
(1877);
.. Serbien
und die
Türkei im
neunzehntenjahrhundert (1879);
.. Weltgeschichte
-
Die Rómische Republik und ihre Weltherrschast
.
(1886) 2v.
SOBRE O CARÁTER DA CIÊNCIA HISTÓ RICA
42
A história distingue-s
.e t Q . d a s c i a s
ser também
uma r t e . 4 3 A história é uma ciência ao coletar, blls.car,i Q
y.
esügar.;..cla..Lu IDa
-arte p o r ~ u e recria e retrata aquilo que encontrou e reconhece_ . Outras
ciências satisfazem-se simplesmente registrando o que foi encontrado;
-ª
história requer a habilidade para
rec
ri r
Çomo dêD.c.ia, a hiSlÓr.
ia
é_pa
r.
ecida com a filosofia;_e como arte, com
a poesia. A diferença é que, de acordo com suas naturezas, filosofia e poesia
( 42
O texto
Id
ee
der Universalhistori e foi
pela primeira vez editado por Eberhard Kessel e pu
blicado na
Historische
Zeitschrift,
CLXXVm em 1954. A versão aqUl traduzida
fOI
pubhcada em
Iggers e Moltke (1973:33-46).
43
Não há dúvida quanto
à
influência decisiva de Humboldt nesta sentença (ver Humboldt,
2001). Compartilha dessa opiniãO Gervinus (2010). (N . do T.)
7/25/2019 3. Leopold Von Ranke – Sobre o Carater Da Ciencia Historica. Apresentacao e Notas [Julio Bentivoglio]
http://slidepdf.com/reader/full/3-leopold-von-ranke-sobre-o-carater-da-ciencia-historica-apresentacao 8/14
42
I
I'
I 1 1 111
1111(
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nt
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hi
slOria d
evc
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S ( ' :\
rcahdad
. 11
Se
alguém designasse à filosofia a tarefa de penetrar a imagem que apar'ceu
no tempo, isso implicaria descobrir a causalidade e conceituar o âmago da
existência: então, a filosofia da história não seria também história? Se a fi
)Qsofia
da história p.lldesse-atribuil:-à_poesia a tarefa de repro_duzir..o_
vi\li..dQ
,
s.eria
então..histá.ria.
A história distingue-se da poesia e da filosofia não em consideração
a sua capacidade, mas pelo objeto abordado, que lhe impõe condições e
a sujeita à empiria.
45
A história traz ambas juntas em um terceiro elemen
to
peculiar somente para si. Ela não é
nem
uma nem outra, porém exige
l,Jma união das forças intelectuais ativas
e r n a ~
2 o e s i a e fi sofia, sob a
condição de que est-ªS..Últimas..sejam_dirigidas..at.ra41és..d.e..s.ua...relaç.ãru;..Qffi..Q
ideaLem..direção aQI.eal.
Existem nações que não têm a habilidade de controlar esse elemento.
A Índia teve filosofia, mas não teve história .
É
estranho como entre os gregos a história d e s e n v o l v e u ~ s e quando
se emancipou da poesia. E os gregos tiveram uma teoria da história que,
conquanto marcadamente desigual à sua prática, era, não obstante, signi
ficativa. Alguns destacaram mais o caráter científico, outros, o artístico,
mas ninguém negava a necessidade de unir os dois. Suas teorias movem-se
entre esses elementos e não se pode decidir
por
nenhum. Quintiliano ainda
disse:
historia est
proxima
poetis et quodammodo carmen solutum .
6
Nos tempos modernos, nos casos de dúvida, tem-se lidado somente
com os elementos de realidade ou então insistido na ciência 'como único
princípio. Têm-se ido tão longe a ponto de fazer a história diluir-se como
uma parte da filosofia.
47
De
qualquer modo, como foi dito, a..históri
a...pr.e.ci
sa ser ciência e arte ao mesmo tem l2Q, A história nunca é uma sem a outra.
44
A esse respeito, há..profunda semelhan a do pensamento de Rank.es.om o de Gervinus, que
escreveu seu Grundzüge em 1837. N. do
T
45 É este também o pensamento de Droysen 2009). Lembro, contudo, que Banke via no fenô
me. 1Q...uma totalidade ,uma..r.ealidade esptitu.aL N. do
T
6 Instituto oratoria
X,
I,
31:
a história é aparentada ao poema;
é,
por assim dizer, um poema
em prosa . Solutum nesse contexto significa liberdade das restrições métricas (nota de Iggers e
Moltke,
1973).
47 Há aqui uma critica direcionada a Kant e, em maior grau , a Hegel, pois Ranke tinha restrições
em relação a uma filosofia da história que procur asse aprisionar a história como também um
domínio do pensamento especulativo. Cf. Iggers , 1988. N. do
T
11111 111 1 Vlill II Allf I
4
Ma,> ( p llSSIVcI que
um
a ou oul ra seja mais pro nun ·iada. Em cursos a histó
I
ia
po
de, claro, aparec r somenL orno ciên
cia.
Só
por
esse motivo
fa
z-se
necessário compreender o mome
nt
o para lidar com a ideia de história .
A arte repou
sa
em si mesma: sua existência prova sua validade. Por
outro lado, a ciência pode ser totalmente desenvolvida fora de sua verda
deira concepção e ser clara
em
seu núcleo.
Consequentemente, eu gostaria de iluminar a ideia de história do
mundo em algumas leituras preliminares - tratando sucessivamente do
princípio histórico, do alcance e da unidade da história mundial.
obre o princípio histórico
Pergunta-se sobre o que justifica os esforços dos historiadores em
si.
Seu esforço é reconhecido como necessário, e pode ser vão falar a respeito
de sua utilidade, já que ninguém duvida disso.
h sod.e-dade. ,..a..i
nteI=.J:elação.
das coisas
ige.m
, Mas nós precisamos nos situar
em
um nível mais ele
vado. Para justificar nossa ciência contra as reivindicações da filosofia, pre
cisamos nos reportar ao sublime; procurar um princípio do qual a história
receberia uma vida única, própria. Para encontrar esse princípio devemos
considerar a história em sua luta com a filosofia . Estamos falando daquele
tipo de filosofia que alcançou seus resultados mediante especulaçãO e que
afirma dominar a história.
Mas
quais são essas reivindicações? Fichte,48 entre outros, expres
sou-as assim: se
fi
,losofar é deduzir os fenômenos que são possíveis na
experiência da unidade de seu conceito pressuposto, então está claro que
não se necessita da experiência para tudo em seu trabalho. Permanecendo
livremente dentro dos limites da filosofia sem considerar qualquer experi
ência, deve-se estar apto
a priori
para descrever todos os tempos e épocas
possíveis
a priori . Ele
exige da filosofia uma ideia unificada de toda a vida
que está dividida em várias épocas, cada qual compreensível abstratamente
ou através das outras, assim como cada uma dessas épocas especiais é no
vamente
um
conceito unificado de uma era especial - que manifesta a si
mesma em um fenômeno mimético e plural.
48 Johann Gottlieb Fichte
1762-1814),
filósofo alemão, um dos representantes do romantismo.
N. do T.)
7/25/2019 3. Leopold Von Ranke – Sobre o Carater Da Ciencia Historica. Apresentacao e Notas [Julio Bentivoglio]
http://slidepdf.com/reader/full/3-leopold-von-ranke-sobre-o-carater-da-ciencia-historica-apresentacao 9/14
44
I11
111
111 111 , 11111111
[Fichte] investe contra o fil ó
or
1 1 que, p'lrlindo de ul a v ' rcl aclc 11
contrada em algum outro lugar e em um caminho peculiar para ele C0 111
pensador, constrói toda a história para si: como isso deve ter ocorrido de
acordo com seu conceito de humanidade. Não satisfeito em verificar se
sua ideia está correta ou incorreta, se m se iludir sobre o curso dos eventos
que realmente ocorreram, ele intenta subordinar os múltiplos eventos à
sua ideia. Certamente, ele reconhece verdade da história somente até
çerto ponto enquanto a subordina à sua ideia . Esta é um mero
constructo
de história .
Se
f o s s ~
correto esse_pr.oce_ imento
-).JLh
istária_perderia toda sua inde-
endência. Ela seria governada simplesmente por uma proposição deriva
da da filosofia pura e sucumbiria como a verdade desta. Tudo aquilo que
é peculiarmente interessante a respeito da história universal desapareceria.
Tudo que é digno_de c o n h e c i m e n t Q S
r e d . u z i r i < L ª - S . a b e r
em que extensão os
-princípios filosófic<lli..podem ser _demonstrados na história: em que exten
são o progresso da humanidade, visto
priori
tem lugar. Mas não haveria
interesse algum em investigar os eventos que aconteceram ou mesmo.-eJ l
desejar saber como os homellS v i \ l e r a n L ~ p e n s a r a m em determinado tem
po. Somente a totalidade do conceito que esteve uma vez vivo na história
observável do homem poderia ser importante. Dbter certe.za..sob.re...ü-CllISO.
<;la
história universal através do estudo-da...história não seria mais_p.DssNel
As únicas variações possíveis estariam em conceitos distorcidos 50 deduzin-
,
do-se o menor do maior. Isso é suficiente para dizer que a história se tornar
dependente, sem
um
objeto inerente e específico, e que sua fonte secaria.
Dificilmente valeria a pena devotar estud.o_à-.história, JeLque....esta estaria
implícita
nQ....CQnceito
filos.ótico.
Estas alegações foram levantadas em outras épocas pela teologia, que ,
também com base naquilo que era inquestionavelmente uma incompreen
são, queria dividir toda a história humana em poucos períodos baseados
no pecado, salvação, milênios, ou nas quatro monarquias profetizadas por
Daniel. Desse modo, procurou capturar a totalidade dos fenõmenos em
49
Hegel é este filósofo. (N . do
T)
50 No original, splitting
concepts.
(N. do T)
11 111 11111 V I I I H 11f I
45
poucas proposiçe cs CO llt id a no
i\pon
di I
se
-
C0
111 a teologia interpreta-
va
·vangelh
o.
51
De qualquer forma, a
hi
stória perderia todu base caráter cien-
tificos: seria impossRel falar de um p.rincípiQ.prQ.prio do qual a história
derivaria sua vida.
Mas, adiantamos quca...história
p e r . m a n e . c ~
m . abalável oj:2osicão
a essas reivindicações. Realmente, até mesmo a filosofia nunca foi hábil o
suficiente para exercitar essa regra. Até onde vão os trabalhos impressos a
respeito, nã o encontrei filosofia alguma que tenha dado o menor sinal de
ter controlado ou que tenha sido bem-sucedida em deduzir a diversidade
de fenõmenos a partir de um conceito especulativo; para a realidade dos
fatos, escapa e ilude o conceito da especulação em todos os aspectos.
Além do mais, descobrimos que a história sempre se opõs a essas
reivindicações com força plena e crescente. Assim prova o caráter único do
.princípio inerente à história, oposto_ao da_ilosofia.
Antes de conferir expressão a esse princípio, perguntamo-nos primei
ro com que leis ele se manifesta.
Antes de tudo, a filosofia sempre volta-nos para a afirmação da ideia
suprema. Ahistória, por outro lado,_traz- pAra as coudiç.õ.es-da-e.x.is-
tência_A primeira conkre
m
pQrtânc
ia ao
interesse universal; a última, ªº -
12articular.52
A primeira considera o desenvolvimento essencial e vê cada
particular somente como
uma
parte de
um
todo. A história volta-se
co.ll1
simpatia_também...par o ];larticular.
5
A filosofia constantemente o rejeita:
estabelece a c o n d i ç ~ o com a qual ela o aprovaria no futuro remoto. Por sua
natureza, a filosofia é profética, dirigida adiante. A história vê b e r r L
benefício na,quilo que existe Ient:2-CD.Illpreendê-lose olha para o passado.
Certamente, nessa oposição Uma
dê
i a c.a....diretamente a outra .
Q..llw.do
cOmO
vimos,
.a
filos.ona-pretende..t.Q.);.nar a história subjetiva a si,
ª
história , pQLSua 2,..faz....afumaç.ães similares. Ela não quer considerar
51
Como se teologicamente a história já estivesse dada e cujo fim seria algo conhecido, tal como
na escatologia de João em seu Apocalipse. (N. do
T)
52 É evidente o afastamento em relação ao idealismo de Hegel nesse ponto . Sem contar que
f ill
~ ã o . - b . á ~ i l l J U Q I D . e n t O - - l . . a p . e . l - º - . a o
con
c i t o ~ d e s t i n Q ( v e r
Hyppolite, 1970:48-
62). (N.
doI.)
53 Ranke aqui quase reproduz o pensamento de Herder a respeito da historicidade, em contra-
posição ao de desenvolvimento teológico e necessário da humanidade. (N. do T)
7/25/2019 3. Leopold Von Ranke – Sobre o Carater Da Ciencia Historica. Apresentacao e Notas [Julio Bentivoglio]
http://slidepdf.com/reader/full/3-leopold-von-ranke-sobre-o-carater-da-ciencia-historica-apresentacao 10/14
46
11 11 111 ', 111
111
11
os result ados da filosofia como absolutos, mas SO tn c nl •
CO
I]l O /('11 111 t llll S
uQ_
emp.D
. Assume
qu
e a m ais exata filoso fia está
contida na
história da
filosofia, isto é, que a verdade absoluta reconhecível pela
hu m
a
nid
ade
é inerente às teorias que aparecem de
tempo em
tempo,
não import
a
como elas se contradizem. A-h istória vai ainda além aqJJi., pois
Que
a filosofia, especialme nte
quando
se engaja
em
definiçôes,.é SÇl
me
n -
a manifestaçãO-dO-conhe.ci.rne.nt.o....n.acionaLine.rente à 1 i n g u
assim nega à filoso.fi.a-.alg.u.ma-v-a.l.i.dade e a compreende em
manifestaçãQ, 54 Nisso, tanto os filósofos como os historiadores, em regra,
aceitam todos os sistemas anteriores
somente como
passos, apenas como
fenômenos relativos, e atribuem validade absoluta somente para seus
próprios sistemas.
Não pretendo dizer que o historiador está certo em sua visão da filo
sofia; só quero mostrar que,
ª
ar ir de u a
pe.rs
,p.e..c.tiya..histárica,-illUurJ.
12r·n ípio atiYo_que se o l h a r . J i l o s ó f i c
o . . . . ~
constantemente se
ex
pressa. A questão é que esse princípio é o que permanece na base daquilo
que se expressa.
Enquanto o filósofo vê a história de seu ponto privilegiado e busca a
infinitude do ser meramente em progressão, desenvolvimento e totalidade;
ª história reconhece aI .o infinito em da exis ência em cada condi ão ,
W1-cada-ser;_alg ete no vind e.Deus
....e....e
s.te...é...
Se.1.Lp.riru:i12io
vital. 55Como
. poderia qualquer coisa existir sem
uma
base divina?
Consequentemente, como dissemos, a.histó_dLv:olta=s
e..
cOIILSimpatia
J2ara o individuo· ortanto, insiste na ali a de d ·m12or ãncia do particu
lar. Reconhece o benefício, o ser e resiste a mudanças que negam o existir.
Até no erro ela admite uma parcela da verdade . Por esse motivo, vê nas
filosofias anteriormente rejeitadas uma parte do conhecimento eterno.
Não nos é necessári pm \TaLqllLO-et
cr:
no reside no indivíduo Esse
é-o fundamento religiusQ...
s:ob...n...
quaLr.epousam nossos esforços.
&;L
edita
mos que não há nada sem Deus e nada ·y..e...senão...poLIDeiD....d.eJ:2e1 s .
li
vrando-se das exigências de uma determinada teologia estreita, queremos,
54
No original,
begreift
sie
unt r
der ander
n
r
s
cheinung
-
sentido pouco claro (nota 6 de Iggers
e Moltke, 1973:38).
55 A iufluência-da...teologi
a...e
m Ranke
é
inegável, _.u a...he
rm
enêutica...glo
sa
.
c.
oIIL.o...d
iY:i.no-
Mais a
respeito, ver Gay (1990). (N. do T.)
11 11 1 ' 1
11 V l
ll
IL
1
1f
I
47
11
:\n
nh > l ll l', p
rok
ssar que todo > os 11
0 5S 0 S
csl
or
ços prov m de uma fonte
ma ior, r c l i . ~ l
Deve ser rejeitada a ideia de que mesmo os esforços históricos são
dirigidos unicamente para a busca desse princípio maior nos fenômenos.
Ass
im, a
hi
st
ór
ia aproximar-se-ia demasiado da filosofia ,
já qu
e pressuporia
antes de tudo contemplar esse princípio. A história eleva, confere signifi
cado e abarca o mundo dos fenômenos, em e
por
si mesma, devido àquilo
que contém. 8 a..deyota seus
es iQrÇD
a Q C Q t . r ~ t . Q . - t l apena 5. ao abstrato
que pode s:staL.contidQ nisso,
{\gora que justmc amos
..n.
osso princípio supremo, temos de considerar
~
m c t a 5 . -
e . . . r e m - Q i ~ : r , a . . . a t i c a histórica.
1. A primeira eitigên cia é o_puro amo.
Là..Y
er.dade 57Reconhecendo algg
.sublime no eYe.ntQ,_na.condiçã
o.,...o.u...na..:p
essoa a m o s investigar, ad
q irimos c apre,ÇQ...pill....aquilo....qllLa
Cont
eceu, passou ou surgi . O pri
meiro propósito é reconhecer isso .
Se
procurássemos antecipar esse reco
nhecimento com nossa imaginação , contrariaríamos nosso propósito elevado
e investigaríamos somente o reflexo de nossas noçôes e teorias subjetivas.
Com isso, entretanto, não queremos simplesmente dizer que o indivíduo
deva permanecer atrelado à aparência, ao seu quando, onde ou como. Pois,
assim, somente tomaríamos o domínio de algo externo, apesar de nosso pró
prio princípio nos dirigir para o interior
2. Consequentemente,
u m . . . . . . e
. o - d Q G u m ~ n t
l . . . . . . . p e n e . t r a ~
0
fu
nd o....faZ=S.e....necessário Antes de tudo essL estudo......d e...v.e....se u a l ado a
fenômeno In:esmo, à sua ndição, se ambiente, princ·palmente
pela razão de que nós, de outra maneira, seríam..QS.Jncapazes de conhecer
a
sua seu co teúdo; pois, em última análise, como cada u n i d a
.de é uma unidade espiritual, ela pode s o m e n t a p r e e n d i d a através da
percepção espirituaP8 Essa percepção clara repousa sobre a aceitação das
leis , de acordo com o que a m ente observadora procede com aquelas que
determinam o surgimento do objeto em observação. Aqui,
já
é possível ser
56 Holanda (1979) e Gay (1990) são categóricos em afirmar a influência da religiosidade no
pensamento de Ranke. (N. do
T.)
57 Ranke disting), e a história_da_ficção , a na tiva histórica como antagQni.ca Lfrc.cional em
relaç-ªº-ªº...princípio daJe li rência ao real, semelhantemente a Humboldt. (N. do T.)
58
Fritz
Stem
(1973:56-57) analisa essa questão, relacionando-a com o círculo hermenêutica .
7/25/2019 3. Leopold Von Ranke – Sobre o Carater Da Ciencia Historica. Apresentacao e Notas [Julio Bentivoglio]
http://slidepdf.com/reader/full/3-leopold-von-ranke-sobre-o-carater-da-ciencia-historica-apresentacao 11/14
48
I 1 ,111 111 I1I 111111 A
mais ou menos talentoso.
To
do gênio repousa sobre a · 'I U
' i
;.
'
[ IT
o
individual e a espécie. º
l 2
rincípio produtivo que formou e criou a natureza
[h.umanaLmanifesta-se no indiYíduu,-que-a reconhece, e\d.denciando-su
alcançando a autocom
pr
eensão.
Esse_dollLLp.ossível em maioL
QUJUeno
LgralLe,_ellLCeLtaJUe-,ií.cla..J.Q
P Q S S l l
Inteligência, coragem e honestidade para contar a verdade
são suficientes. Qualquer um espera descobrir e investigar, desde que a isso
tenha devotado seu esforço e se
em
seus estudos permanecer livre de pre
conceitos, mantendo sua humildade. Mas o que é ausência de preconceito?
Essa questão leva-nos à terceira exigência que emite nosso princípio.
3. Um n t e r s s u n i y c r s a l Existem aqueles que estão interessados so
mente nas instituições cívicas , nas constituições, no progresso científico, na
criação artística, ou apenas em enredos políticos. A mai QLparte da
his1.Ó.ria
fl té
aqu
Llratoll_de_guerra e azo Mas já gue esses
asp..ecLO
da..soci.edade
e
1KQD.traffi=SC
_pLesentes nãQ.s.eparadamente.,JUas
-.i
llnto - a r o . e
terminando um ao Qutro - e
já
e m p l o a t i t u d e s c i ê ~ c i a 5 9
(requentementej nfluenciallLa_pulitica_doméstica
j
nteresse igual deve ser
votado a todos esses
f
tores. Do contrário nos tornaríamos incapazes de
compreender
um
aspecto sem o outro e trabalharíamos ao contrário da
finalidade da cognição. Nisso reside a liberdade de preconceitos que dese
jamos. Isso não é uma falta de interesse, mas sim um interesse em cognição
pura, despida de noções preconcebidas . Mas como? Poderia esse esforço
penetrante e ~ s a busca da verdade apenas dissecarem a unidade do campo
em partes individuais, e com isso não nos ocuparíamos somente com séries
de fragmentos?
4. l m:e
mga.
ção do nexo caus
ru
. Basicamente, deveríamos estar satis
feitos com uma informação simples - satisfeitos que elas correspondam
meramente ao objeto. Nossa exigência original teria sido satisfeita se exis
tisse ao menos uma sequência entre os vários eventos. Mas há uma conexão
entre eles . EY..E:IJ.lQ.s-qllc5 ão simultâneos tocam e etam uns aº s_Cllltr.os. ;....os
p . r e . . c e
d e m
determinanLQs-Que se seguem; há uma conexão interna de
causa e efeito. Embora esse nexo causal nâo seja designado por datas, ele
59
No original,
die wissenschaftlichen ichtungen -
sentido não muito claro nesse contexto (nota
9 de Iggers e Moltke, 1973:40).
11 11111' VIIII IL III I
4
l X
ISll , : n n s l al ll l'. Ele ex isle, e porque ele existe devemos tentar_eoxga
Jlizn l
o.
Esse Lipo de observação da história, que de.ri.ya efeitos de causas,
hama-se pragmática;60m
as
gostaríamos de compreendê-la não na maneira
usual, mas de acordo com nossos conceitos.
Desde o desenvolvimento da historiografia contemporânea, a escola
pragmática de pensamento, tal como aplicada
às
ações, tinha introduzido ·
um
sistema de acordo com o qual egoísmo e sede de poder seriam a mola
principal de todas as ações.
61
O que é usualmente requerido é explicar
as
ações observáveis dos indivíduos como o resultado de paixões que deriva
mos dedutivamente do nosso conceito de homem. O ponto de vista resul
tante tem uma aparência de aridez, irreligiosidade e falta de sensibilidade
que nos conduz ao desespero. Não posso negar que o egoísmo e a sede de
-p.Qde
p.Qde
Ill-ser- mQ.i:v.Qs-muit
o d e m s
grande influência,
mas nego que_
eleS-Sejam
_os-
Úni.co
s.
62
Antes de mais nada,1emo
s...
q e inves
tigar a n f o r m a ç
~ - º - g
e n u í n a tão precisamente quan possíyel para determi
nar se d e m o r . i r . . . o S I D . O l O . S . . I . e a i s . Fazer isso é bem possível, mais
do que frequentemente se pode pensar. Somente quando esse caminho não
nos conduz mais além, é-nos permitido conjecturar. Que ninguém acredite
que essa limitação pode restringir a liberdade de observação. Não Quant o
mais documentada, mais exata e mais frutífera a pesquisa, mais livremente
pode se desdobrar a nossa arte, q.ue sÓ floresce DO elemento da jmediata-e
irrefutáyel :ll.erdadel .MQtbms-apenas inventados são estéreis. Os verdadei
ros, derivados de observações pontuais
ç
o . ersos e profundos. Assim
como o conhecimento em geral, _mesmo nosso ragmatismo é documen
tal. Ele pode mesmo ser muito reticente e ainda muito essencial. Onde os
eventos falam por si, onde a composição pura manifesta a conexão, não é
necessário falar dessa vinculação detalhadamente.
63
60
Ranke
faz
a distinção que também será feita posteriormente
por
Bernheim (1903) entre his
tória genética e história prática. (N.
do
T.)
61
De certo modo, há
uma
referência implícita aos historiadores iluministas, como Voltaire,
adeptos desse
modo
de pensar a história. (N. do
T)
62
Agentes da história. (N. do
T)
63 Aqui fica claro onde u g e r e Que os fatos p_Qs.saIIÚalaLJ2QLSi.e.,- como se pode ver, não
.
pareCLS.CI-.a
lgo..amplo, mas
m u i t o c í f u : . o . . - q u
O l I
s Q s
particulares_de_grancl com
J 2I O v
ação-empírica_
e..
d
e..
e'lidência.espirituaL (N. do
T)
1 O
11 1 1 1 1 III IIIIIIA
7/25/2019 3. Leopold Von Ranke – Sobre o Carater Da Ciencia Historica. Apresentacao e Notas [Julio Bentivoglio]
http://slidepdf.com/reader/full/3-leopold-von-ranke-sobre-o-carater-da-ciencia-historica-apresentacao 12/14
5.
lmp
arcialidad
e.
Como uma regra, doi pa rri düs
II
V, lIS a p a l l l l II1 lI a
história mundial
64
As
disputas em
qu
e esses partidos estão engajados são,
com certeza, muito diferentes, mas relacionadas intimamente. Nós sempre
vemos uma desenvolver-se da outra. Que ninguém acredite que eles serão
tão facilmente esquecidos no curso
do
tempo.J:Iá no hQmeIILuma.co.nfian
ça
Je
liz.-n Jolga.tIll to da ·stóri.a.e.da-poste.Iida.de-qu&.é..-apelada mil vezes.
Mas.. raramente esse julgamento é transmi tido ohjethl3mente Não sobre
vi
ve conQsco um interesse similar àquele do passad<L.illlgamos o passado
muito mais, repetidas vezes, pela situação p re sente Talvez esse traço nunca
tenha sido pior que
no
presente, quando alguns interesses que permeiam
toda a história mundial ocupam a opinião geral e, mais do que nunca, a
dividem em muitos prós e contras.
Esse pode ser o caminho do proceder na política, mas não é verda
deiramente histórico.
N.ó.s.,...q
ue-huscam..os a verdade. r.IJJi\S
IDG-em..e.n
o, qlJe
'lemos cada-existência como ermeada de Yi.da...originaL d
e.v.
e_mos_acima.de
tl. .dQe-Yitar esse erro
Ond
e.hollYer conflito similar, ambos partidos devem
s'eL.
\dstos sobre seu próprio terreno, em seu P.TI2 2 rio desenvolvi mento, por
. dIZer, rtLe.u próprio estado pa..r.tic..ular interim:...Nós devemos com
pre dê-los ntes ue s
Poder-se-á levantar a objeção de que o escritor, também aquele que des
creve, deve ter sua opinião, sua religião, das quais não pode se desvencilhar.
Essa objeção seria justificada se nós presumíssemos dizer
quem
está
correto em caqa disputa.
65
É muito possível que, mesmo calor de uma
disputa ,
já
saibamos claramente que lado apoiaríamos,
em
favor de qual
opinião decidiríamos. Também é possível que aquela imparcia lidade que,
em um conflito entre duas opiniões divergentes, geralmente vê a verdade
no meio-termo torne-se impossível para o historiador,
já
que ele é defini
tivamente muito devotado a sua própria opinião . Mas isso não é tudo que
importa. Podemos ver o erro, mas
ond
e não
há
erro? Isso não
nos
levará a
64 Partidos q ue expressam as forças da ordem e da desordem, "que constituem as condições
primeiras do processo do mundo" (White, 1995:181). (N. do T.)
65 Aqui se evidencia uma defesa..radical pela.não tomada de P
osição.,...
pelo...nã.Qjulgamenro , peja
,ªusência de · u í z
Q S . . . .
a l o . r . . .
e m r e a ç . õ e s human
as no passado, expressão da imparciali
dade rankiana.
(N
. do
T.)
I I
111'"
I \/1 H ..111 I
1'
Iu'ga l : l ~ ICallda k s da CXIS nela . Pe rt o do bem, nós reconhecemos o mal,
mas
es
te um mal que in
ren
te à situação.
N
os
o op ini es que nós examinamos . J:iLós lidamos com a exis
I ncia que tem reiteradas vezes a m eQs'va influência e disputas
politicas e i o s a s L e . r g u e m o n o s para contemplar o caráter essen
cial d as oposi ões,_dos..cleJnentos
em
conflito,
vendo
quão complexos e
n t r e l a ç a d j . J ão..no. cabe-j.ulgaLeJ:I:íLe...y..er.dade-enquanto_tais.
Nós meramentL oosenzamos
umaJigura
surgindo lado a lado
com
outra
figura; vida, lado a lado com vida, efeito, lado a lado com efeito contrário.
N.QS.5.a-
ta
tefa.-é.in..'le.stigá-Ios
na
base de sua existência e retratá-los
com
..cnmpleta-o.b3.e.tUzida.Qg.
Até o presente, dois grandes partidos engajaram-se em
uma
batalha
para a qual a resistência e o movimento das palavras tomaram-se um lema.
A história posiciona-s
a:a
do partido que deseja a preservação eterna,
assim como do movimento contínuo avante. Alguns consideram ser a pre
servação o legítimo princípio. Esses encontram uma legalidade na preser
vação de certo
status quo
de
uma
lei definitiva. Eles não querem perceber
que O que existe deriva da reforma pelos conflitos q le destDlíram O que
exis.tia-an.tes .
Mas,
por
outro lado, a história cessaria. Ela alcançaria
em
algum ponto o seu objetivo. Não deveria haver, por assim dizer, nenhuma
condição ilegal, nada que a razão pudesse confrontar com
uma
conclusão
impossível. Mas a história t ampouco aceitaria a
s u p l a n t a ~ . ã 0
do_v
elho.,
_cmno.
â,e fosse algos.ompletamente...m
urJ
o 'nutili zável se ider.aç
ão..
p..aDU:.Q.lIL
interesses lQQti,s .ou..par.ticular.es .5.e..
aJÜstória..eYi.ta-a
yjolência na obseryaç.ãQ,
violência a execu ão. Este destruir
mudar
e
U Y < M ç U J ~ d & . l " . i l l . . . ~ ~ ~ " " " , ~ Ela é a condição de uma
ruína interior que
se
manifesta dessa maneira. Ela é um organismo
em
con
flito consigo mesmo, certamente curioso de se observar, mas não agradável.
histó 'a, é laro, eco.nh.ece o_prindpioJio...rn.ovim.e as como evolu-
çãQ,_eJIão_como_]:g.volução Esta é a verdadei a azã
c . . o . n h .
princípio da resistência. Somente..on
d.e...m
o.Yi.mcrllil e resistênci e . i.br.arn.
U
J:I?-3 Olltro e
m..
se_e Yolvere ssas atalhas violentas e vorazes
120de
a
umanidade prospera..Ó.omente_porque a histÓria reconhece a ambos, pode
ser
j1lS1a
com
amboS-Não....c..abe
à
história sequer julgar em teoria o conflito
história sabe muito bem que o conflito será decidido
1 2
7/25/2019 3. Leopold Von Ranke – Sobre o Carater Da Ciencia Historica. Apresentacao e Notas [Julio Bentivoglio]
http://slidepdf.com/reader/full/3-leopold-von-ranke-sobre-o-carater-da-ciencia-historica-apresentacao 13/14
1 " " I 1 , 111
'
1 A
6.
C.Q gpção de totalidade; . Assim co mo exisle
o j)
lr l icul ar,
a
l ll
l
xão entre um e outro, há ta
mb
ém fina
lm
ente a tota
lida
de. Se iSLO
é
uma
vida, portanto alcançamos sua aparência. Percebemos a sequência pela
.Qual
um
f a t o
O l l t r o . Mas não é o bastante. Há també 19o de.J.Q.taL
em cada vida; ela começa ,....ex.crc.
e...
efeitos adquire..influ.ência, ela pross.e.g.u.e .
Essa totalidade é tão certa em cada momento--.qllamo...enL toda...expressã.o..
Ere.cisamos dev
otar
toda nossa atenção a isso. Se estamos tratando com
um ];lovo, não estamos somente interessados
nos momentos
individuais de
suas ex;wessões
de
vida. De ];lreferência, tratam os
da
totalidade de seu de
g nvolvimento, de suas a ões,
suas
instituições e
sua
literatura, a ideia
nos
faléLtant
que
sim]2lesmente não ];lodemos e"gaL
noss
a...at.ençãQ.
Quanto
mais longe vamos, mais...d ifícil é, claro , chegaLà-i
dei
- pois..aq.ui.l.amb.ém.
- podemos...realizar:..alg o...so.ment
e...
através
da
pes.qllis
a....
exata.,-atra'léS-de...u.ma
ompr.e.ensã.Q..pass.
o..a...passo
.,-
e..
a.
t.
r:a..
\l
és-cto...estudo_do..s..-.do_c.ume.mos. Se esse
processo
procede
através
da indução do
já sabido, ele é um
conhecimen
to intuitivo
divination ;
se procede de uma prenoção, toma a forma
de proposições filosóficas abstratas . Vê-se
quão
infinitamente difícil são
os objetos da história universal. Que quantidade infinita de fontes Que
diversidade de esforços
Como
é difícil trabalhar
apenas com
o
parti
cular
. Afinal, há muitas coisas que desconhecemos; então ,
como
vamos
entender
o
ne
xo causal em
todo
lugar
ou ir
ao
fundamento
essencial
da
totalidade?
Considero
impossível resolver esse
problema
inteiramente.
2Q.
D..e
us
conhece a história universal. Reconhecemos as
contra
,d iç õe s - "as
harmonias", como disse
um
poeta indiano: "conhecido pelos deuses, ig
norado
pelo
homem
",
nós
pod e
mos apenas
intuir,
somente nos apro
ximar
à distância. para nós , existe claramente uma unid
de
_ uma
progressão, um desenvolvimento .
Entã - P.el
o....
c.aminho-d
a-l
listória che.gamos_até...a.....de.finiÇãO da tarefa
da filosofia. Se a filosofia é o que devia ser, se a história fosse perfeitamente
clara e completa, então elas
poderiam
coincidir completamente
uma com
a outra. A ciência
h i s t ó r i c
u i r i s e . . J . L S . U .
a n á l i s .
e . . c 0 1 : r U L e p í r l l i >
da
filos..o.fi.a . Se a arte bis.tórica-po.ck.e.n
tã
QSllrgir ao
dar
vi
da
ao su 'eito con
creto e ao
rep
m
duzi
d o
com
aquela part e de força poética
p . e n s
66
a 5 . . Q õ e s
iniciais...do método comp.r.e..e.nsiYQ, tal como se apresenta na
hermenêutica de Schleiermacher. (N . do T.)
1111111 1 11 VIIII
I AIII
I
III IV:I1 P I,:I ' IlIat> <\11
1
ç ;, Jl l' la
('
111 seu t arau: r veruaueiro aqullo que conse
gui u apr 'cnucr c . mprec
nd
c
r,
la i ia, c omo disse.mos-n.o.J.ní.c:i.o.,_ ir de
man ira
pec uliar ciê
nc
ia e arte ao...mesm<Uem]2..o.
o alcance da história mundial
Em
três ca
minhos
- corruespeit.cLa...(l)..s.e.quê.ru:ia.,i 2) simultaneida
çie d
3)
des_
ll.
voMme.ntosJndÜd.d.U..ais.-
67
1.
SeÇ[uência - Em-resuma a.his.tó.ria.ahrangeria toda a vida da hu
J.anidade surgida.
no
t e m p o M a s . . m u i d e s . t a . . L t a
bém
perdida e desco
nhecida. O primeiro período de sua existência e seus elos estariam perdi
u a l q u
s p e . r a n ç a . d
e . . . s e . r e l l L e n w n t r a d o s novamente.
Podemos perceber
que
significado a história tem.
Se
autores de outro
tipo estão p.e..r.d · f : . r . c k : : s ~ a . . e . x p r . . e s s ã o
do
individual.
Em
_umlivn histó-
ico e n t r e t a n t o
~ p r . e . s .
5 . a l l b S . e . . n ã O - S Q . o olhar de um au
tºr; o ivro.-histál:ic interess -nº poL causa_d
CL
qlle_Lun.té d s .das os
outros .Muito
que
era descrito foi perdido, algo
que pode
ter sido descrito.
Tudo isso é ameaçado pela
morte
s..mnente aqueles
que
ó r i a relembra
não e s t ã c . o m p l e t a m e n t e J l l . Q t l . O . 5 . ; - S . e . l L C a r á t M l o o i l l . . . ' ~ . J d " ' - . \ d
a existir
na . d i d a e I i l l a n e . c e m
consciência dos homens.
omente
com..a
extin
ç
ão da
e ória e tt.ahelece-se a mort e.
68
Somos afortunados quando vestígios documentais
permanecem
. Pelo
menos eles podem .ser compreendidos. Mas o que acontece quando não
existe nenhum , como, por exemplo, na.-pr.é.::histó.riaL.Esl
ou
a c o r d Q em
x . c . l u i I : - e o d . u . . história por í:[ue ele
contrad
ÍZ-.O...princípio histórico,
gue é a pesquisa QocumentaL
Alguém poderia excluir
por
completo aquilo
que comumente
é to
mado
sobre a história
mundial da
dedução geológica e dos resultados
da
história natural a respeito
da
primeira criação
do
mundo, o sistema solar e
67
Esta é uma sentença incompleta no original
al
emão. Nota 14 de 19gers (1988:45) .
68
Passagem que evoca a abertura das
i
s
tórias
de Heródoto: "Heródoto de Halicarnasso apre
senta aqui sua historie para impedir que o que fizeram os homens, com o tempo, se apague
da memória e para que grandes e maravilhosas obras, produzidas tanto pelos bárbaros, quanto
pelos gregos, não cessem de ser retomadas" (apud Hartog, 1999:17).
(N.
do T.)
54
7/25/2019 3. Leopold Von Ranke – Sobre o Carater Da Ciencia Historica. Apresentacao e Notas [Julio Bentivoglio]
http://slidepdf.com/reader/full/3-leopold-von-ranke-sobre-o-carater-da-ciencia-historica-apresentacao 14/14
a Terra. Em nosso método, não revelamos nada sobre esses lópi os; pcrmi .
tamo-nos confessar nossa ignorância
9
Como_
p.ara-.as..mito.s.
,.n
ào-.q
ero
egar...c.a.tegOJic.amente...q.ue
des sequer
c.Qntenha um elemento histórico ocasion . Mas a
c o ~ a i s J m p o r t a n t e
é Q1 l e eles exgressam o olhar de um ovo sobre si mesm
.-S.llil
atitude dian
te do mundo etc Eles são
imgonantes, s.Qb.r..e.tlldo,
comQ..uma.caracterfstica
subjetiva de um 12ovo ou como seus gensamentos foram eX12ressos n e l e
não....p..o causa de algum fato objetivo que gossam conter. Em um rimei o
§ ecto eles j2.QSSl.le1lL.unL.f:ir..rneJiento e são mllito C Q n f i á v e i ~ a
pesquisa histórica, mas
não em
última instância
Finalmente, não podemos deYo..taLmaior atenção àQueles povos
que
.ainda
e r m a n e c e m em
um tipo de estado de natureza e que nos le
v am a s up
QI..J:[ue a uilo
Q ~ s i o r a m
de o início
manti
era-se,
ql l l
condiçãD.....p.ré-histórica tinha sido reservad a neles. Índia e China reivindi
cam uma era de ouro e têm uma longa cronologia. Mas até o mais arguto
cronologista não pode compreendê-la .sua antiguidadLé len dária,...mas...s..ua
çondição é antes um caso pªI.a....a.his..tória natural.
69
Ranke prenuncia a distinção feita por Wilhelm Windelband (1848-1915) que, em discurso
famoso de 1894, insistiu...Ila...separação....entre..história e a história natma
1
aproximando esta -lti
ma das ciências naturais, deyjdo
ao...seu
caráter nomotético. (N. do
T.)
Gervinus
Julio Bentivoglio
A história
em
suas relações c
a.m..a-v.ida...i..tiCíl,
é inim
ig.cuta1:U.WI
de todo o i Q I a m e J 1 t o e d e t a d a a v i r : t u d e d c . é l u l a . ela
no
ensina
a no:; obse
as
...s.emp
re em comunhão com o todo em nossas
relações
sociais. Ela tira dc
nás
o pJ oY e i.t
a....pLápLi..a. o
egoísmo
e
tod.o
o....1echamento
aristocrático
e
orienta-nos
no
sentido
dos
anti
gQ.S. ª.
gv.roveitar a
vida
presente.
Gervinus,
Fundamentos de teoria
da
história,
837
o século XIX mostrou se
notável
na produção
de grandes
historiadores e
foi,
de
fato, o século da história.
1
Naquele
momento, graças aos esforços
de
intelectuais
dotados de
sólida
erudição
e
de aguda
sensibilidade
epistemo
ló gica,
. c o . n s . t i t u i u . . . s e a G i ê n c i ~ i S 1 . ó r i c a
com u:oLd.o.rníni.cLa:u.tô.nilln.o..-do
s..aber,
a12artada dQs_estudQs..1ilQsófiGos...eJitcrários} Essa árdua tarefa foi le
vada
adiante na
Inglaterra e
na
França,
mas
foi
particularmente na
Prússia
que encontrou seu
maior
desenvolvimento, graças a
nomes como
Wilhelm
von
Humboldt
1767
1835),
Barthold Niebuhr 1776
1831), Leopold von
Ranke 1795 1886), Johann G. Droysen 1808
1884)
e Georg
Goufried
GeLY.inu5.,-qlle,....s:n.tr..e
tros e.sme.ra se na c nSlru ç ão do dis c u rso do
méto.d.o
_
pa
o
a-ess ;....campCLdr-..eslll.d.QS É por
esse
motivo que Jorn
Rüsen,
entre outros,
identifica esse momento
como
o de fundação
da
ciência
his
tórica moderna.
3
Aq.uela...primeira ge.m..ção
de
historiador:es alemães
formulou
propnstas.
~ a G @ } : a e GJ
:iginais
...a..r.e.s..pdto
do
mé tod
o l:íistóricü, da....crítica....d.o.Cllill.e.ll
taL do papel do is .
ado
e aceIC d es.cri1Lda história , produzindo fe-
1 É
o que afirmam, entre outros, Reis (2007:36) e
Iggets 1988).
2 Iggers, 1988, esp. capo 5.
3 Rüsen, 2001:27; Blanke, Fleisher e Rüsen, 1984.